Por Bia Parra
O interesse pela Alemanha é crescente e não é para menos.
Uma das, senão a única, grande potência Europeia a passar por toda esta crise
financeira de forma intocável reflexo de sua compromissada, solida e
responsável organização econômica... gostamos disso e claro, queremos ver tudo
bem de pertinho, não é?!
Mas claro que sabemos que nem sempre tudo foi tranquilo
assim. Quem visita Berlim precisa ter a exata dimensão de tudo que aconteceu
nessa cidade, palco de atrocidades, tirania de dois dos grandes monstros da
história moderna... isso, eu disse moderna, ou seja, nunca podemos esquecer que
o veremos lá faz parte da nossa existência e por isso a emoção toma conta das
vivências de Berlim.
Durante 28 anos, de 1961 a 1989, a população de Berlim,
ex-capital do Reich alemão, com mais de três milhões de pessoas, padeceu uma
experiência ímpar na história moderna, viu a cidade ser dividida por um imenso
muro da noite para o dia, assim sem mais nem menos numa manobra esquizofrênica
de maníacos de um poder fadado ao fracasso.
Vamos voltar um pouquinho para tentar entender o incompreensível,
porem previsível...
Em 1945 Berlim foi conquistada pelo Exército Vermelho
(URSS - a grande forca socialista). Porém, apesar dos soviéticos terem tomado a
cidade e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado
ocidental dela para os três outros membros da Grande Aliança, vitoriosa em 1945
(Estados Unidos, Inglaterra e Franca - as forças capitalistas). Desta forma,
Berlim viu-se administrada, a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores: o
russo, majoritário, o americano, o inglês e o francês. Com o azedar da relação
entre os vencedores, em 1948 as quatro zonas reduziram-se a duas: a soviética e
a ocidental. Ânimos alterados, relações azedadas e Guerra Fria instaurada, os
anos seguintes foram marcados por intensas medias de disputas sempre tendo a
população Alemã como vitima de discórdia política e sanções econômicas,
restrições de deslocamento entre as duas porções da cidade impostas pelo lado
Soviético. Resultado obvio: Emigração em massa de mão de obra, Intelectuais e
famílias inteira para o lado ocidental.
O lado Socialista não teve dúvida, na manhã bem cedo do
dia 13 de agosto de 1961, a população de Berlim, próxima à linha que separava a
cidade em duas partes foi despertada por barulhos estranhos, exagerados. Ao
abrirem suas janelas, depararam-se com um inusitado movimento nas ruas a sua
frente. Vários Vopos, os milicianos da RDA (República Democrática da Alemanha),
a Alemanha comunista, com seus uniformes verde-ruço, acompanhados por patrulhas
armadas, estendiam de um poste a outro um interminável arame farpado que
alongou-se, nos meses seguintes, por 37 quilômetros adentro da zona residencial
da cidade. Enquanto isso, atrás deles, trabalhadores desembarcavam dos
caminhões descarregando tijolos, blocos de concreto e sacos de cimento.
Imaginem pais de família que estavam trabalhando aquela noite não puderam
mais voltar para suas casas por 28 anos. Famílias inteiras foram separadas,
amigos já não podia mais conversar, a referencia e identidade, ainda em construção
pôs guerra, acaba de ser mais uma vez, alterada compulsoriamente!!! A liberdade
ainda no caminho da conquista sofreu mais uma vez um golpe.
O paredão viera para ficar. Era uma monstruosidade
arquitetônica que denunciava a estética kitsch, cinzenta, burra e tosca, do
comunismo soviético.
Quando ele ficou pronto, seu cinturão externo,
envolvendo completamente a cidade, media 155 quilômetros, enquanto que o
interno atingiu a 43 quilômetros 37 deles na área residencial (a zona da morte).
Medindo em média 3,6 m, instalaram nele 302 torres de observação e 20 bunkers,
de onde os soldados atiravam em quem se arriscasse a trespassá-lo. Ninguém sai,
ninguém entra!!! Ao longo de quase trinta anos, os Vopos mataram 192 pessoas e
feriam outras 200 que tentaram fugir através dele, além de deterem outras 3.200
suspeitas de querer evadir, uma verdadeira insanidade social. Não era o muro
que determinava o limite... eram os próprios homens irracionais...de verdade
inimaginável para um povo já massacrado e se viu no maior campo de presos da
historia.
O fracasso do socialismo russo foi se somando às
possibilidades de desconstrução daquela obra fria e abominável. No ano de 1973,
as duas Alemanhas reataram os seus laços diplomáticos. Na década de 1980, os
oficiais da RDA permitiram que o outro lado fosse visitado somente após uma
complicada avaliação do pedido e o pagamento de um pedágio de 25 marcos. Nessa
mesma época, várias pichações anônimas e a declaração oficial norte-americana
defendiam a extinção do Muro de Berlim, enfim o mundo começava a ouvir as vozes
do desespero de um povo sem identidade, sem liberdade, sem autonomia.
No ano de 1989, os húngaros abriram suas fronteiras e,
com isso, permitiram que milhares de orientais alcançassem o outro lado.
Enquanto isso, a ascensão política de Mikhail Gorbachev na União Soviética
indicava que o bloco socialista politicamente se esfacelava. Em 9 de novembro
de 1989, a Alemanha Oriental permitiu a travessia para o outro lado. Em clima
de festa, os alemães retiravam pedaços de concreto que viabilizaram uma divisão
obtusa e traumática.
Famílias se reencontraram, amigos se reviram, os Alemães
do lado oriental renasceram e se juntaram ao mundo do qual foram retirados
durante 28 anos!!!
Isso é historia. Esta foi a nossa historia. Não há
como ir a Berlim e não ter esta exata dimensão e se deslumbrar com a capacidade
de um povo em se reinventar, se redescobrir e ate ser feliz.
Um beijo e ótima semana.
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