Por Bia Parra
Deste muito cedo em minha vida tenho entrei em contato com a
vida e a obra do grande mestre brasileiro Cândido Portinari. Isso porque íamos
com muita frequência para fazenda de meu avô e Brodowski, cidade onde nasceu e,
portanto tem várias de suas obras, fica bem perto.
Tenho que falar que talvez tenha sido o primeiro artista que
consegui acompanhar a obra de que tenho lembrança e agora com mais compreensão
de sua estética, posso verificar o quão maior é sua importância.
Portinari é filho de imigrantes portugueses e nasceu numa
fazenda de café em 1903 em Brodowski, interior de São Paulo. Teve uma educação formal deficiente e não completou
o ensino primário.
Porém sabemos que quem tem real talento, basta vislumbrar
uma pequena oportunidade para fazer acontecer... aos 14 anos foi recrutado com
auxiliar por uma turma de pintores italianos que faziam restaurações em igrejas
pela região. Talento aflorado, aos 15 segue para o Rio de Janeiro em busca de
aprimoramento na Escola de Belas Artes e logo chamou atenção de mestres e
professores. Com 20 anos já participava de exposições e ganhava visibilidade,
entre outras coisas pelo seu grande interesse por um movimento artístico até
então considerado marginal, o modernismo.
Buscou expressão internacional e seguiu para Paris, de onde
teve o distanciamento necessário para deixar aflorar suas raízes e despertar um
interesse social mais profundo expresso em sua obra. Vários artistas
influenciaram seu novo momento como Van Dongen e Othon Friesz. Nesta mesma
ocasião conheceu Maria Martinelli com quem passou o resto de sua vida.
Em 1931 Portinari voltou ao Brasil. Sua obra estava
totalmente renovada evidenciando a valorização de cores e os ideais, além de
uma clara opção por murais e afrescos em detrimento de suas telas pintadas a
óleo.
Muito bem relacionado com poetas, escritores, jornalistas e
diplomatas, Portinari participou da elite intelectual brasileira em uma época em
que se verificava uma grande mudança na cultura do país resultando no reflexo direto
em sua trajetória.
Na década de 40 a consagração mundial aconteceu após Alfred
Barr comprar a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expô-la no MoMA
em NYC. O interesse pelo artista se tornou algo grandioso. Fez exposição solo
em NYC e dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington.
Nesta ocasião, conheceu a obra que mudaria definitivamente
sua estética, “Guernica” de Pablo Picasso. Quando voltou ao Brasil em realizou oito
painéis conhecidos como “Série Bíblica”, fortemente influenciado pela visão de
Picasso de “Guernica” e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial.
Já em 1944, a convite do grande arquiteto Oscar Niemeyer,
iniciou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo
Horizonte (MG). Por sinal o conjunto como um todo deve ser visitado, aproveite
que vai para ver os jogos da Copa que acontecerão em Belo Horizonte.
O cunho político também esteve presente na obra e na vida de
Portinari como a escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra presentes nas
séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, entre 1944 e 1946.
Efetivou sua militância política filiando-se ao Partido
Comunista Brasileiro e candidatando-se a deputado, em 1945, e a senador, em
1947.
Já em 1948, Portinari exilou-se no Uruguai, por motivos
políticos, onde pintou o painel “A Primeira Missa no Brasil”, encomendado pelo
banco Boavista do Brasil.
Em 1949, fez o grande painel “Tiradentes”, narrando os episódios
do julgamento e execução do herói brasileiro que lutou contra o domínio
colonial português.
A década de 50 ao mesmo tempo em que foi icônica, foi
dramática para Portinari. Atendeu a solicitação do Banco da Bahia e realizou
outro painel com temática histórica, “A Chegada da Família Real Portuguesa à
Bahia”. Expos na 1° Bienal de São Paulo com
tanto destaque que teve uma sala particular e iniciou os estudos para os
painéis “Guerra e Paz”, oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da
Organização das Nações Unidas, os quais foram concluídos em 1956 medindo cerca
de 14mx10m cada, os maiores pintados por Portinari.
Em 1954 Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo
chumbo presente nas tintas que usava. Continuou seus trabalhos e morreu no dia
6 de fevereiro de 1962, quando ainda preparava uma grande exposição de cerca de
200 obras a convite da Prefeitura de Milão, Itália.
Aqui em São Paulo, na Fundação Maria Luísa e Oscar
Americano, lugar que amo e que serve um chá da tarde delicioso, é possível apreciar
as telas Meninos e Piões e Favela. Seu maior acervo sacro, entre pinturas e
afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de
Batatais (onde também tem um dos melhores pães de queijo do mundo), interior de
São Paulo. São 23 obras, incluindo dois retratos, imperdíveis.
Acho que mais do que
informação, minha intensão foi reviver e trazer para o presente a grande
importância deste ícone da arte nacional, o grande mestre Cândido Portinari.
Um beijo e até mais.
*Informações:
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